LIXO

LIXO.


Aula 1 – Língua Portuguesa






Encontram-se na área de serviço. Cada um com o seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
    - Bom dia...
    - Bom dia.
    - A senhora é do 610.
    - E o senhor do 612.
    - Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
    - Pois é ... http://www.eerp.usp.br/saudeambiental/saude_imagens/lixo.jpg
    - Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
    - O meu quê?
    - O seu lixo.
    - Ah...
    - Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
    - Na verdade sou só eu.
    - Humm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
    - É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
    - Entendo.
    - A senhora também...
    - Me chama de você.
    - Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
    - É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas como moro sozinha, às vezes sobra...
    - A senhora... Você não tem família?
    - Tenho, mas não aqui.
    - No Espírito Santo.
    - Como é que você sabe?
    - Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
    - É. Mamãe escreve todas as semanas.
    - Ela é professora?
    - Isso é incrível! Como você adivinhou?
    - Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
    - O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
    - Pois é...
    - No outro dia, tinha um envelope de telegrama amassado.
    - É.
    - Más notícias?
    - Meu pai. Morreu.
    - Sinto muito.
    - Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
    - Foi por isso que você recomeçou a fumar?
    - Como é que você sabe?
    - De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
    - É verdade. Mas consegui parar outra vez.
    - Eu, graças a Deus, nunca fumei.
    - Eu sei, mas tenho visto uns vidrinhos de comprimidos no seu lixo...
    - Tranquilizantes. Foi uma fase. Já passou.
    - Você brigou com o namorado, certo?
    - Isso você também descobriu no lixo?
    - Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
    - É, chorei bastante, mas já passou.
    - Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
    - É que estou com um pouco de coriza.
    - Ah.
    - Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
    - É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
    - Namorada?
    - Não.
    - Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
    - Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
    - Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
    - Você está analisando o meu lixo!
    - Não posso negar que o seu lixo me interessou.
    - Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la .Acho que foi a poesia.   
- Não! Você viu meus poemas?
    - Vi e gostei muito.
    - Mas são muito ruins!
    - Se você achasse eles ruins mesmos, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
    - Se eu soubesse que você ia ler...
    - Só não fiquei com ele porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
    - Acho que não. Lixo é domínio público.
    - Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
    - Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
    - Ontem, no seu lixo...
    - O quê?
    - Me enganei, ou eram cascas de camarão?
    - Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
    - Eu adoro camarão.
    - Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
    - Jantar juntos?
    - É.
    - Não quero dar trabalho.
    - Trabalho nenhum.
    - Vai sujar a sua cozinha.
    - Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
    - No seu lixo ou no meu?

        VERÍSSIMO, Luís Fernando. A palavra é humor. São Paulo, Scipione, 1990

1) Na sua opinião, as personagens estão mesmo interessadas no lixo um do outro, ou suas perguntas revelam uma segunda intenção? Justifique sua resposta.












2) Assinale a alternativa correta:

No texto de Luís Fernando Veríssimo, o narrador aparece apenas no primeiro parágrafo para:

(    ) descrever as personagens.
(    ) explicar a situação em que se dá o encontro.
(    ) indicar o local onde se dá o encontro.
(    ) introduzir o diálogo entre as personagens.

3) Observe os pronomes de tratamento que são usados ao longo do texto e explique por que, em determinado momento, “senhor” e “senhora”  são trocados por “você” e “a gente”






4) Identifique as personagens por meio de seus gestos, sentimentos e atitudes assinalando a tabela:


Homem
Mulher
Mora só


Mora em apartamento


Não sabe cozinhar


Não está namorando


Conseguiu parar de fumar


Nunca fumou


Gosta de cozinhar


Escreve poesias


Observa o lixo do vizinho


Come comidas enlatadas





5) Note que a utilização das reticências é muito frequente no texto. Considerando o contexto e a história, explique a utilização desse sinal de pontuação.















6) Escreva as pistas que geraram as seguintes conclusões:

a. A família dela mora no Espírito Santo.




b. Ela andou muito deprimida.



c. A mãe dela é professora.



d. Ele gosta de poesia.



7 – No texto há a presença de substantivos. Retire cinco deles.
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8 – Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou característica do ser e se "encaixa" diretamente ao lado de um substantivo.
Com base nesta afirmação, retire do texto um adjetivo.
_____________________________________________________________________

9 –  “Hummm, notei que você usa muito comida em lata.”
Na frase acima há uma interjeição. Grife-a.


10 – O texto acima lido é uma crônica.
Veja a definição:

A crônica é um gênero que tem relação com a ideia de tempo e consiste no registro de fatos do cotidiano em linguagem literária, conotativa.
A origem da palavra crônica é grega, vem de chronos (tempo), é por isso que uma das características desse tipo de texto é o caráter contemporâneo.
A crônica pode receber diferentes classificações:

a lírica, em que o autor relata com nostalgia e sentimentalismo;
a humorística, em que o autor faz graça com o cotidiano;
a crônica-ensaio, em que o cronista, ironicamente, tece uma crítica ao que acontece nas relações sociais e de poder;
a filosófica, reflexão a partir de um fato ou evento;
- e jornalística, que apresenta aspectos particulares de notícias ou fatos, pode ser policial, esportiva, política etc.
 Características das crônicas
 É, em geral, curto; 
 Trata de problemas do cotidiano; assuntos comuns, do dia a dia; 
 Traz as pessoas comuns como personagens, sem nome ou com nomes genéricos. As personagens não têm aprofundamento psicológico; são apresentadas em traços rápidos; 
 É organizado em torno de um único núcleo, um único problema; 
 Tem como objetivo envolver, emocionar o leitor.

Com base nas informações obtidas acima, assinale a alternativa correta:

O texto de Luís Fernando Veríssimo é uma crônica:

(    ) lírica
(    ) ensaio
(    ) humorística
(    ) jornalística
(    ) filosófica





















Agora, leia esta outra crônica:

O celular

Numa noite de inverno, no início dos anos 90, eu estava assistindo ao Jornal da Globo e vi uma reportagem sobre o telefone do próximo milênio, um aparelho chamado Celular.
    -“Celu, o quê?” – pensei.
    - Celular. – repetiu a jornalista, que naquela época não era a Ana Paula Padrão nem a Cristiane Pelagio.
    Fui dormir pensando no assunto, pois estava cursando o 3º ano da faculdade e tinha aprendido, em Biologia, que as células são as menores unidades que compõem um organismo. Então, por que celular? Será que ele também é composto por células?
Quebrei a minha cabeça e, não conseguindo encontrar a resposta, resolvi cuidar da minha vida e de coisas mais importantes.
    Entretanto, um dia ao chegar à faculdade, vi uma amiga com aquele estranho aparelho no banheiro. Quando ela me viu, disse que havia acabado de descarregar a sua caixa postal. Logo imaginei que ela estivesse se referindo às suas necessidades fisiológicas, e perguntei se ela estava passando bem. A moça, sem entender a minha pergunta, respondeu que sim, e que na caixa postal não havia recados de seu noivo. Fiquei sem graça e, naquele momento, entendi que a caixa postal se tratava da caixa de mensagens do estranho aparelho chamado “Celular”.
    -“Que vergonha!” – pensei.
    Os anos passaram, meus filhos nasceram e convivemos fiel e obsessivamente com a presença deste aparelho, que hoje faz parte da vida de mais de 70% dos brasileiros, com a sua caixa postal sendo descarregada não somente nos banheiros, mas em todas as dependências das faculdades e das cidades.
    Até hoje não sei a origem do nome “Celular”, mas sei que atualmente ele é a unidade fundamental para o convívio de todos os seres humanos da nossa sociedade tecnológica.
    Viva o CELULAR!
                Lucy Carvalhar

A partir das crônicas lidas, escreva no seu caderno uma crônica com o assunto da sua escolha.

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